Não, não está tudo bem. Ontem, tudo o
que eu queria era que algum efeito especial fosse ativado sobre mim e,
automaticamente eu me tornasse invisível. Sim, eu queria sumir ou ir para bem
longe. Para algum lugar no qual ainda não conhecesse, onde eu não tivesse noção
de como seria. Porém hoje, depois que despertei e analisei o meu rosto inchado,
parecendo como se eu tivesse levado uma surra, mudei de idéia. É que ontem,
enquanto soluçava desacreditado das coisas boas que a vida possivelmente teria
para mim, eu mal conseguia respirar de tão ofegante que estava. Mas hoje, após
ter colocado todo esse estoque de decepção para fora, parece que tudo está mais
limpo aqui por dentro. Tudo está mais calmo. Tudo está mais disposto a querer
sarar.
Eu sabia que não daria certo. Eu tinha
certeza que não daria. Eu sentia. Algo gritava no meu ouvido todas as noites
quando aquele sorriso começava a se formar antes de eu pegar no sono. Eu já
tinha passado por esse sofrimento antes, então era fato que eu não deveria
alimentar aquela pequena faísca que me tocou e incendiou tudo. Ok, tudo bem. Eu
tentei me fazer de forte. Recusei inúmeras vezes. Fui grosso. Disse que não.
Mas a mulher, ela tem o poder de ser insistente quando quer algo. Ela não
desiste tão facilmente. E é nessa
insistência feminina que mora o perigo.
Diante a tantos olhares. Tantos quase
beijos. Tanto esforço lutando contra o meu próprio instinto, acabei cedendo.
Poxa vida, eu não sou de ferro. Entreguei-me mesmo. Dando e recebendo. Sorrindo
e causando sorrisos. Parecia realmente que a felicidade estava ao meu favor.
Que o amor dessa vez tinha ficado do meu lado. E que, pela primeira vez eu
estaria errado.
Ah, como eu queria ter estado errado…
Não demorou muito tempo para que o lado
de lá começasse a esfriar. E é claro que nesse pouco tempo, o “super esperto”
aqui já estava mais do que apaixonado. Mais do que conectado. Mais do que
dentro dessa relação nada promissora. E, quando eu percebi que o caos estava
próximo, tentei de todas as maneiras não permitir que o mesmo acontecesse. Fui
dez em um. Fiz quase o impossível. Porque
quando a gente ama é assim mesmo, loucuras e exageros são mais do que
permitidos.
Mas não rolou. Não foi para ser. Quer
dizer, não foi para ser por causa dela, porque por mim era para ser incrível. Era
para ser energético. Era para ser duradouro. Mas tudo o que acabou sendo foi um
“pouco tempo bom”. Porque ela é uma dessas pessoas de momentos. E pessoas de momentos não nasceram para
amar. Num dia, elas te desejam. No outro, elas te ganham. E logo depois,
elas já não possuem mais tanto interesse simplesmente porque o sabor já foi
provado, o tempero já entrou para a lista. E é hora de experimentar um
gosto novo.
E foi assim que ela se foi. Quando eu
deixei de causar interesse. Quando eu deixei de ser novidade. Quando eu deixei
ser um desafio. E eis aí o motivo de eu ser tão neutro. Tão fechado. Tão
mínimo. Já cai tanto na esquina do amor,
que preferi prestar mais atenção onde ando e não mais me permitir ralar o
joelho. Mas sempre tem alguém que nos
tira do eixo, confunde a nossa cabeça e faz dos nossos sentimentos, passa-tempo.
Então após ter chorado todo o meu estoque
de lágrimas que foram acumuladas de outros desamores – quebrando esse
estereótipo de que homem não chora -, decidi que eu quero que dessa vez demore
mais para sarar. Quero sentir mais. Talvez assim, eu aprenda de uma vez por
todas que quando a alma diz que não, o corpo tem que obedecer. Vou dar tempo ao
tempo. Fazer amizade com a esperança. Reativar a minha fé. E atualizar a minha
coleção de pensamentos positivos. Uma hora essa tristeza toda vai passar. Então
me deixa quieto no meu canto, porque tá doendo.